Cibercultura
- Ciberespaço
- Inteligência coletiva
- Comunidade virtual
Lévy (1999) define o
“neologismo” cibercultura como "o conjunto de técnicas (materiais e
intelectuais) de práticas de atitudes, de modos de pensamento e de valores que
se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço” (ibid., p.17). Os conceitos de
cibercultura e ciberespaço são centrais. Para este autor, estamos a passar por
um processo de universalização da cibercultura, na medida em que estamos cada
vez mais imersos nas novas relações de comunicação e produção de conhecimentos
que ela nos oferece. O termo “ciberespaço especifica não apenas a
infraestrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico
da informação que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e
alimentam esse universo” ((ibid., p.
17).
O autor debruça-se sobre o impacto das tecnologias, sobre a
construção da inteligência colectiva, que denomina “como veneno e remédio da
cibercultura”. A sociedade encontra-se condicionada pela técnica mas não é
determinada por ela, isto é, a sociedade constitui-se historicamente pela
técnica embora não seja determinada por esta. Ao considerar que a sociedade é
constituída pela técnica, o investigador desenvolve uma resenha histórica que
compreende o advento da escrita, da enciclopédia e do ciberespaço. Descobre novas
formas de organização e coordenação flexíveis, em tempo real, no ciberespaço.
Considera ser este o mediador por excelência da inteligência coletiva.
Assiste-se à emergência de uma nova configuração no mundo do trabalho, já que a
construção cresce a cada dia. Na era digital, "as tecnologias intelectuais” ((ibid.,p.157) são dinâmicas, objectivas e
podem ser compartilhadas por muitas pessoas
Dá especial relevância
à emergência do ciberespaço, destacando que
“é virtual aquilo que existe apenas em potência e não em ato”. Defende
que “é virtual toda a entidade «desterriotorializada» capaz de gerar diversas
manifestações concretas em diferentes momentos e locais determinados, sem
contudo estar ela mesma presa a um lugar ou tempo em particular” ((ibid.,47). Com o advento do
ciberespaço, o saber articula-se à nova perspectiva da educação, em função das
novas formas de se construir conhecimento, que abrangem a democratização do
acesso à informação, os novos estilos de aprendizagem e a emergência da
inteligência coletiva. Os processos tradicionais de aprendizagem tornam-se, de
certo modo desadequados, dada a necessidade de renovação dos saberes, a
reconfiguração do mundo do trabalho e do ciberespaço. Com a chegada do ciberespaço,
Lévy alerta para o facto de que “o computador não é mais um centro, e sim um nó,
um terminal, um componente de rede universal e calculante ((ibid.,p.44). Em face do contexto do
ciberespaço, as praticas pedagógicas devem ser repensadas: “uma vez que os
indivíduos aprendem cada vez mais fora do sistema acadêmico, cabe aos sistemas
de educação implantar procedimentos de reconhecimento dos saberes e savoir-faire adquiridos na vida social e
profissional” ((ibid., p. 175).
Segundo Lévy (ibidem, p. 177) as “árvores de
conhecimento são um método informatizado para o gerenciamento global das
competências nos estabelecimentos de ensino, empresa, bolsas de emprego,
coletividades locais e associações”. São comunidades de memória colectiva, de interação
entre as pessoas. A noção de comunidade virtual terá um grande futuro. Hoje em
dia, cada vez mais a sociabilidade passa pelos laços sociais, que já não estão
baseados na pertença territorial e cada vez mais se constituem em processos de
intercâmbio de conhecimento, processos de imaginação coletiva. Cada um de nós
poderá participar nessas comunidades virtuais em função dos seus gostos,
paixões e interesses. É impossível assumir, hoje em dia, a totalidade do
conhecimento. Cada um, cada grupo tem de fazer uma filtragem, uma organização,
uma selecção, uma hierarquização das informações “em bruto”. Não há comunidade
virtual sem “interconexão”, já que é uma “inteligência colectiva”. Não há
inteligência colectiva em grande escala, sem virtualização ou desterritorialização das comunidades no ciberespaço. A expressão “comunidade actual”
seria mais adequada para descrever os “fenómenos de comunicação colectiva no
ciberespaço” ((ibid., p. 45).
Temos de tomar
consciência da nossa responsabilidade na construção do sentido. Não podemos
atribuir a nenhum individuo, a nenhuma instituição, a uma qualquer entidade
exterior para nos fazer a escolha do que nos interessa. Cada um de nós tem o
dever e o direito de fazer as suas próprias escolhas, o que é muito difícil.
Para este autor, a
cibercultura consubstancia-se como elemento inerente à terceira etapa da
evolução humana que “mantém a universalidade ao mesmo tempo que dissolve a
totalidade” ((ibid., p. 257),
admitindo, no entanto que a “formação de uma grande comunidade mundial”
continua a ser “desigual e conflituante”.
Lévy, P. (1999). Cibercultura. São Paulo: Editora 34
acedido a 2 de novembro de 2015
em http://baixar-download.jegueajato.com/Pierre%20Levy/Cibercultura%20(432)/Cibercultura%20-%20Pierre%20Levy.pdf